sábado, 31 de agosto de 2013

A COR DE SEUS OLHOS


Fulgurante luz teu cabelo louro
e olhos: espelho d’água cristalino,
bela face resplandece como ouro,
visada perigosa de felino.

Afrodite à luz do plenilúnio
maldiz a aurora que te alumia o rosto,
vira aos céus, ralha espumas de desgosto,
desgraçando a Zeus por todo o infortúnio.

Esculpida em preciso e fino talho,
cândida, reluzente como orvalho
tu és flor que desabrocha altivez:

a beleza, ó fardo que te abusa!
Defeito só os olhares de medusa:
petrifica quem te visa uma vez.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

OLHARES

A mirada penetrante
dos amigos não tem beira
é translúcida clareira
é olhar petrificante.

Falavam-se sem a veste
de qualquer palavra-imagem,
contemplavam a celeste
direta e pura linguagem,

entretanto, inibidos,
assaz o momento abusa,
sentem-se por fim coagidos
nos olhares de medusa.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

DO MISTÉRIO DA POÉTICA

O vociferar sereno de um Nume
desprovido, apenas, de agonia,
faz convergir nas palavras o lume,
repentinamente surge a harmonia.

Num sincero dialogar de deidades
principia sem pressa a inspiração
sem data certa, momento, idades,
o silêncio do ar carrega a criação.

Do balbuciar dos anjos, a permuta;
da carpintaria do verbo, a escuta;
do redemoinho ou furacão é o olho.

Inapreensível mistério divino
que é ceifa de Deus-homem-menino:
substância da poesia é o restolho.