segunda-feira, 27 de julho de 2015

A CRIANÇA NÃO ESTÁ MORTA

A criança não está morta
A criança ergue os punhos contra sua mãe
Que grita "Afrika!", grita o hálito 
Da liberdade e da estepe
Nas mediações do coração cerceado

A criança ergue os punhos contra seu pai
Na macha das gerações 
Que gritam "Afrika!", gritam o hálito 
Da retidão e sangue
Nas ruas de seu orgulho sitiado

A criança não está morta, não em Langa, nem em Nyanga
Nem Orlando ou Sharpeville 
Nem no departamento de polícia em Philippi
Onde ela resta com uma bala atravessada na cabeça

A criança é a tenebrosa sombra dos soldados
Em guarda com rifles sarracenos e cassetetes
A criança está presente em todas as assembléias e decretos
A criança perscruta através das janelas das casas e dentro dos corações das mães 
A criança, que apenas quis brincar sob o sol de Nyanga, está em todo lugar

A criança, transformada em homem, percorre toda África
A criança, transformada em gigante, viaja através do vasto mundo

Sem passaporte

INGRID JONKER (tradução: Cid Rodrigo Leite)